Nos últimos anos, muitos cientistas têm apontado que o intestino pode ser considerado nosso “segundo cérebro". Isso porque, ao “interpretar" os alimentos que ingerimos diariamente, o intestino pode repelir ou eliminar aqueles considerados tóxicos e absorver aqueles que oferecem nutrientes essenciais para o funcionamento do corpo, como vitaminas, minerais e energia. Ele também envia determinadas informações sobre essas substâncias para o cérebro, através de uma rede de neurônios que percorre todo o abdômen, do esôfago até o reto, interagindo com o sistema nervoso central. Além disso, já te contamos também sobre a relação entre a imunidade e o intestino.
Constituído por boca, esôfago, estômago, intestinos, reto e ânus, ele tem a função de conduzir alimentos e absorver nutrientes que auxiliam no funcionamento do organismo. Depois de percorrer todos esses órgãos, o processo de digestão se encerra através das fezes, com a eliminação das substâncias que não foram digeridas pelo organismo, o chamado bolo fecal.
É importante lembrar que, ao contrário do que muitas pessoas acreditam, o bolo fecal não é formado por restos de comida, mas sim por água e bactérias que ajudam a metabolizar as substâncias contidas nos alimentos, como as gorduras, por exemplo.
Por toda essa complexidade das funções intestinais, a Dra. Renata Filardi, gastroenterologista do Hospital Brasília, explica que também é possível investigar, por meio da regularidade das idas ao banheiro e das características do bolo fecal, se há alguma alteração no funcionamento do sistema digestivo. A A presença de sangue nas fezes é, segundo a médica, um desses sinais a que devemos ficar atentos. Nesses casos, é importante buscar a avaliação com um especialista.
Sangue nas fezes: quais são as causas mais comuns?
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O sangue nas fezes pode ter origem em diversas áreas. Segundo a médica, o primeiro passo é observar a tonalidade do sangramento. Quanto mais vermelho, maior a chance de ser alguma alteração relacionada às regiões que compõem o final do sistema digestivo. E quanto mais enegrecido, maior a chance de ser alguma alteração decorrente de lesões do trato gastrointestinal alto, como esôfago, estômago e duodeno, por exemplo.
Nesse sentido, existem três tipos de apresentação de sangue nas fezes: melena, hematoquezia e sangue oculto. Entenda o que significa cada caso:
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Hematoquezia: a presença de sangue vivo nas fezes é um sinal de que a alteração pode estar ocorrendo no intestino grosso, reto ou ânus, pois a coloração indica que o sangue não passou pelo processo de digestão. Nesse caso, as causas mais comuns são fissuras anais, hemorroidas, sangramento em divertículos , alguns tipos de colite aguda, colites crônicas e câncer de intestino;
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Sangue oculto: casos de sangue oculto são aqueles em que, apesar de a secreção não ter sido digerida, só é possível vê-la por meio do exame de fezes. Algumas condições que justificam o sangue oculto são: crescimento anormal do tecido do intestino, úlcera no estômago, doença de Crohn e câncer colorretal;
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Melena: além de provocar o escurecimento das fezes, esse quadro também aumenta o odor. Isso ocorre porque, uma vez que a origem do sangramento está em estruturas que precedem o intestino (boca, esôfago ou estômago), o sangue acaba sendo digerido. Pode ser indício de gastrite, úlceras gástricas, varizes esofágicas ou tumor no estômago.
Como identificar o sangue nas fezes?
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Para verificar a presença de sangue nas fezes, segundo a especialista, é importante se atentar a alguns sinais que podem indicar problemas no trato gastrointestinal, como:
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Cor avermelhada da água do vaso sanitário após evacuar;
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Presença de sangue no papel higiênico;
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Manchas vermelhas nas fezes;
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Fezes muito escuras, pastosas e com mal cheiro.
“Ao identificar a presença de sangue nas fezes, deve-se procurar um médico gastroenterologista e/ou proctologista para avaliar a causa do sangramento.", explica a Dra. Renata.
Como diagnosticar a causa do sangue nas fezes?
É muito importante manter seus exames em dia, pois diversas doenças, quando descobertas precocemente, têm grandes chances de cura. Por isso, sempre que houver suspeitas de presença de sangue nas fezes, consulte um clínico geral ou um gastroenterologista.
“Nesses casos, o mais comum é que o médico solicite um exame de fezes. Entretanto, para chegar a um diagnóstico mais preciso, análises complementares como colonoscopia, endoscopia ou exame de sangue também podem ser necessárias", explica a especialista.
Qual o tratamento para o sangue nas fezes?
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O tratamento para o sangue nas fezes dependerá da origem do problema, sendo que as causas mais comuns são atribuídas a fatores benignos.
No trato gastrointestinal alto (boca, esôfago e estômago), geralmente o sangramento é decorrente de doença ulcerosa péptica e a maioria dos casos pode ser resolvida com medicamentos.
Enquanto isso, no trato gastrointestinal baixo (intestino delgado, intestino grosso e ânus), a alteração decorre de patologias de ordem orificial (hemorroidas e fissuras, por exemplo) e câncer colorretal. Entre as abordagens disponíveis, contamos com medicamentos, inserção de clipes mecânicos que interrompem o sangramento e, para casos mais resistentes, a cirurgia pode ser necessária.
Por fim, para os quadros de colites crônicas (representadas pela Doença de Crohn e retocolite ulcerativa, o tratamento depende da gravidade da doença, sua extensão e local envolvido. Para casos mais leves, o tratamento medicamentoso é suficiente, já os mais complexos podem necessitar de intervenções cirúrgicas.
“Com a doença sob controle (quadro que os médicos chamam de 'remissão'), é possível levar uma vida normal e com boa qualidade de vida. Quanto mais rápido for o diagnóstico, melhor o tratamento e menores as chances de complicações a longo prazo", reitera a Dra. Renata.
Quais exames podem ajudar a diagnosticar o problema?
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O exame de sangue oculto avalia a presença de pequenas quantidades de sangue nas fezes, que podem não ser visíveis a olho nu. Dessa forma, ele ajuda a detectar a presença de sangramentos no intestino grosso, que podem ser sinais de úlceras, colite ou até câncer.
“Pouca gente se lembra de fazer – e às vezes até mesmo os médicos se esquecem de pedir – o exame de sangue oculto nas fezes. Entretanto, ele é muito eficiente para ajudar no diagnóstico precoce do câncer de intestino e tem a vantagem de ser simples, de baixo custo, além de não ser invasivo, como a colonoscopia", completa a médica.
Na verdade, continua a Dra. Renata, o exame de sangue oculto funciona como uma espécie de triagem: ele indica quem realmente precisa fazer colonoscopia. É o método ideal para rastreamento em grandes populações. Ela lembra, porém, que o teste não se aplica a quem já tem sintomas intestinais, situação em que a colonoscopia se torna obrigatória.
Quem já tem sintomas intestinais, como sangue visível e vivo nas fezes, deve procurar auxílio médico para realização de exames de sangue e fezes, além de colonoscopia. Sendo os mais comuns:
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Hemograma: avaliam se o sangramento está provocando anemia;
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Provas de atividade inflamatória, como PCR ou calprotectina fecal: auxiliam na identificação de colites como causa de sangramento;
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Exame parasitológico de fezes ou coprocultura: identificam parasitas que podem levar à lesão de mucosa intestinal que justifique sangramento.
Para casos de fezes com aspecto enegrecido (melena) também deve-se, obrigatoriamente, realizar exames endoscópicos. No primeiro momento, através da realização de endoscopia digestiva alta e, se o primeiro exame endoscópico não for elucidativo, colonoscopia.
Como prevenir sangue nas fezes?
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Através de hábitos simples, podemos evitar o aparecimento desta complicação. É o que detalha a Dra. Renata. “É importante ter uma dieta balanceada, rica em fibras, verduras, legumes, linhaça e frutas que soltam o intestino, como laranja e uva com casca. Além disso, consumir bastante água, reduzir o consumo de bebidas alcoólicas e cigarro, e praticar exercícios físicos regulares. Essas atitudes são capazes de melhorar o funcionamento do intestino e prevenir doenças intestinais.", esclarece a médica.
Vale lembrar, ainda, que a partir dos 50 anos, mesmo que não haja sintomas ou percepção de sangramento, é recomendado realizar colonoscopia e exames para diagnóstico de sangue oculto nas fezes, sendo os intervalos para as análises indicados pelo seu médico de acordo com a história clínica de cada pessoa. O objetivo desse cuidado é diagnosticar o câncer de intestino precocemente.
Núcleo Especializado em Doenças Intestinais Complexas (Nedic)
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O Núcleo Especializado em Doenças Intestinais Complexas (Nedic) do Hospital Brasília e Hospital Brasília Unidade Águas Claras é um projeto inovador e pioneiro na região Centro-Oeste. O Nedic conta com equipe multiprofissional altamente especializada, composta por gastroenterologistas, coloproctologistas, nutrólogos e o suporte das áreas de:
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radiologia;
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endoscopia;
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psiquiatria;
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nutrição;
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enfermagem;
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fisioterapia.
O núcleo oferece um tratamento direcionado ao paciente que necessita de internação hospitalar por doenças intestinais graves, crônicas e complexas como:
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doença de Crohn;
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síndrome do intestino curto;
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diverticulite complicada;
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obstruções intestinais;
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síndromes disabsortivas,
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colites;
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enterites de várias etiologias, entre outras patologias do trato gastrointestinal.
A equipe está disponível para receber pacientes encaminhados por profissionais externos que não trabalham com internação hospitalar, com a garantia de que ele será reencaminhado a seu médico assistente para acompanhamento ambulatorial por ocasião da alta hospitalar, juntamente com um relatório detalhado sobre sua condição de saúde, tratamento e exames realizados durante o período de internação.
Para mais informações, entre em contato com a Central de Atendimento.