A obesidade infantil – geralmente desencadeada pela associação de hábitos alimentares pouco saudáveis com inatividade física/sedentarismo – pode ter consequências nocivas que o indivíduo levará para o resto da vida. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade deverá atingir 11,3 milhões de crianças brasileiras até 2025.
Sabemos que muitos adultos adoram ver um bebê “fofinho” e “gorduchinho”, mas se não houver muito cuidado e discernimento na hora de escolher os alimentos da criança, esse quadro, que parecia inofensivo, pode resultar em problemas sérios de saúde e autoestima. Por isso, o papel da família é determinante no controle dessa doença.
Os cuidados precisam começar nos primeiros anos de vida
A Dra. Viviana Iveth Serafim, pediatra da Maternidade Brasília, compartilhou conosco uma pesquisa realizada por cientistas da Universidade de Queensland, na Austrália, que revelou que os efeitos do açúcar no cérebro são parecidos com aqueles provocados pelo consumo de drogas, uma vez que a substância induz as mesmas respostas na região do cérebro (conhecida como centro de recompensa) como as da nicotina, da cocaína, da heroína e do álcool. Dá para imaginar o quão prejudicial esse consumo é para os pequenos, não é? Vale ressaltar ainda que há casos em que a criança já nasce com alguma predisposição para o ganho excessivo de peso, como é o caso de crianças com Síndrome de Down. Nessas situações, os papais e mamães devem ficar ainda mais atentos.
A ingestão de doces nessa fase ainda eleva o risco de obesidade e altera totalmente o paladar da criança com menos de 2 anos. Se antes ela estava acostumada com o gosto do leite materno, de fórmula infantil ou alimentos naturais, o açúcar traz um sabor completamente novo e “extravagante” – mais saboroso e mais viciante. Esse fato pode acabar comprometendo as futuras escolhas alimentares da criança, que passa a priorizar preparações açucaradas ou artificiais em relação a opções saudáveis. De acordo com a Dra. Viviana, ao conhecer o açúcar, a criança pode rejeitar outros sabores.
Mas não pense que, após os primeiros anos de vida, está tudo liberado. Durante toda a infância, o limite de ingestão de açúcar é de, aproximadamente, 25 gramas por dia, de acordo com a OMS. E isso não envolve apenas os cristaizinhos de açúcar em si, mas também aquele que já vem embutido em sucos artificiais, refrigerantes, balas, biscoitos recheados, bolinhos etc. Extrapolar essa quantidade pode, muitas vezes, resultar em hiperatividade, dificuldade de concentração e irritabilidade, entre outras complicações psicológicas, fora os desdobramentos referentes ao excesso de peso.
Como saber se meu filho sofre com obesidade infantil?
Existem mais chances de sucesso no tratamento da obesidade durante a infância do que nas outras fases da vida, e eliminar esse vilão, com certeza, vai garantir melhor qualidade de vida para o seu filho. Para isso, o primeiro passo é identificar o problema.
O cálculo do IMC é uma alternativa simples e bastante útil. Primeiramente, anote a altura e o peso da criança. Depois, é só pegar uma calculadora e dividir o peso pela altura ao quadrado. Exemplo: se seu filho mede 1,30m e pesa 35kg, o IMC é 20,7. Ao chegar a um resultado, basta consultar os indicadores da OMS, descritos a seguir:
De 0 a 5 anos:
– IMC de até 3 = a criança é considerada abaixo do peso;
– IMC entre 3 e 85 = a criança é considerada adequada;
– IMC entre 85 e 97 = a criança tem risco de sobrepeso;
– IMC entre 97 e 99,9 = a criança tem sobrepeso;
– IMC acima de 99,9 = a criança é obesa.
De 5 a 19 anos:
– IMC até 3 = a criança é considerada abaixo do peso;
– IMC entre 3 e 85 = a criança é considerada adequada;
– IMC entre 85 e 97 = a criança tem sobrepeso;
– IMC entre 97 e 99,9 = a criança é obesa;
– IMC acima de 99,9 = a criança tem obesidade grave.
O que fazer para evitar essa doença?
“O melhor para evitar a obesidade infantil é o exemplo. Não podemos exigir que a criança se alimente de maneira adequada se os pais não consomem frutas e vegetais, usam o celular durante as refeições e não praticam atividades físicas. As crianças não nascem sabendo, elas aprendem vendo os mais velhos e através do convívio”, ressalta a Dra. Viviana Iveth Serafim, pediatra da Maternidade Brasília.
É fundamental bloquear o fácil acesso a alimentos industrializados com alta densidade energética, principalmente os fast-foods, e priorizar preparações saudáveis e o mais natural possível. Aproveite o tempo extra em casa para incentivar as crianças a terem maior contato com os alimentos. Que tal elaborarem refeições juntos, desde a higienização até o preparo? Uma simples atividade como essa fortalece o vínculo entre pais e filhos e ainda facilita a adoção e manutenção de hábitos alimentares mais saudáveis. Vocês também vão se divertir fazendo pratos supercoloridos e bem diversificados na hora do almoço, ricos em hortaliças e vegetais, por exemplo.
Se o desejo de doce surgir, você pode investir em sorvetes caseiros – bata uma fruta com um pouco de água no liquidificador ou mixer e coloque na forminha para congelar. Outras opções são os doces de pera ou maçã cozida com canela, salada de frutas ou doce de abacaxi cozido.
Também é preciso ficar atento ao tempo de exposição da criança a TV, tablet, celular e games, o que intensifica um comportamento sedentário. Mesmo antes da quarentena, já foi constatado que, hoje, os pequenos ficam mais reclusos, muito menos expostos às atividades físicas comuns da infância e da adolescência de antigamente, como pular corda, andar de bicicleta, jogar futebol, vôlei e queimada com os amigos e brincar de pique. Portanto, é importante incentivar atividades aeróbicas, mesmo que dentro de casa. Será mais divertido ainda se houver o envolvimento de toda a família!
A obesidade infantil pode originar diversas comorbidades, como alteração do colesterol, dos triglicérides, da glicemia e da pressão arterial, além dos problemas psicossociais provocados pelo estigma da obesidade. Tais crianças também têm mais chances de ter desenvolvimento motor atrasado, apneia do sono, dislipidemias, maturação sexual acelerada, problemas gastrointestinais e consequências psicológicas associadas a autoimagem negativa, baixa autoestima, distúrbios alimentares e depressão”, de acordo com a coordenadora de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Dra. Gisele Bortolini.
A detecção precoce da doença é essencial para uma mudança do quadro de obesidade. Por meio da reeducação alimentar gradativa e da introdução de atividades físicas na rotina, a criança terá mais chances de eliminar o risco de levar essa doença para o resto da vida.