Afinal, como é o câncer de boca? Esse tipo de carcinoma forma manchas, caroços, nódulos e/ou úlceras que podem ocorrer em toda a área da cavidade oral – nas gengivas, nas bochechas, no palato –, no entanto, na maioria das vezes, se desenvolve na parte lateral, abaixo da língua ou nos lábios. Na falta de tratamento adequado, há efeitos permanentes e inevitáveis na boca, que causam problemas de mastigação, deglutição e fala, fora as chances de fatalidade. O câncer bucal é um dos dez tipos mais comuns no mundo, ainda que não seja tão conhecido pelo público em geral.
Ao notar alterações na boca, procure um médico especialista no assunto o mais rápido possível. É fato que nem todas as lesões na boca são cancerosas, mas tendo como base o princípio da medicina, de que qualquer coisa anormal deve ser avaliada e controlada, é importante buscar um diagnóstico ao menor sinal de alerta que se desvie da aparência normal da mucosa oral. Um dos fatores que tornam o câncer de boca tão grave e perigoso é o fato de que a maioria dos casos é negligenciada e chega ao hospital já tarde demais para tratamento. Quanto mais cedo a lesão for tratada, melhores serão as chances de sobrevivência.
Entenda, a seguir, como identificar o câncer bucal.
Quais os sintomas do câncer de boca e garganta?
Primeiramente, ressaltamos que o câncer de boca e o câncer de garganta são dois quadros distintos. Para facilitar a identificação dessas ocorrências, a Dra. Marina Azzi, cirurgiã de cabeça e pescoço do Hospital Brasília, elenca os principais sintomas de câncer de boca e de garganta.
Sintomas do câncer de boca:
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presença de ferida que não cicatriza em 15 dias;
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aumento progressivo do tamanho da ferida;
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dor local que se torna mais intensa e provoca dificuldade para mastigar e engolir alimentos;
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necessidade de consumir alimentos pastosos ou líquidos por causa de dor ou desconforto);
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perda de peso.
Sintomas do câncer de garganta:
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rouquidão persistente (duas semanas);
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dor ao engolir os alimentos;
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desconforto respiratório;
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dor no ouvido.
Quais os tipos de câncer bucal e quais os fatores de risco?
**“**O principal tipo de lesão maligna (câncer) na boca é o carcinoma epidermoide ou espinocelular, também conhecido como CEC. Esse tumor surge no tecido de revestimento da boca (nos lábios, na bochecha, na língua, na gengiva e/ou no céu da boca). Os principais fatores de risco relacionados com esse câncer são tabagismo e etilismo. A associação desses dois fatores aumenta significativamente o risco do surgimento do câncer de cavidade oral. Senso assim, a mudança de hábitos de consumo de álcool e cigarro tem impacto direto na prevenção do câncer de boca. Outro fator de risco importante é a infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV), que está relacionada com câncer na orofaringe, região que compreende as amígdalas e a base da língua", alerta a especialista.
Vale destacar que muitas pessoas confundem câncer bucal com câncer na bochecha, dois quadros completamente diferentes. O segundo tipo de carcinoma surge na face externa da região da bochecha, isto é, na pele em si. Por isso, podemos considerá-lo um câncer de pele, uma vez que tem relação direta com exposição solar crônica. A confusão entre as duas doenças se dá, principalmente, pelo fato de que o câncer que surge na face interna da bochecha, ou seja, no tecido mucoso de revestimento – e não na pele –, é considerado um câncer bucal, então, possui relação com os mesmos fatores de risco que os outros cânceres de boca (cigarro e álcool).
Boca amarga pode ser câncer?
A afirmação de que boca amarga pode ser câncer não passa de um mito. Essa característica não é um dos sinais do câncer de boca, mas possui relação com doença do refluxo gastroesofágico, conhecida como DRGE na medicina. Tal sintoma costuma acontecer quando o conteúdo do estômago, que é ácido, entra em contato com a boca durante a ocorrência do quadro de refluxo. Muito frequentemente, há sensação de queimação no peito associada (conhecida como pirose).
Prótese dentária pode causar câncer de boca?
A prótese dentária não pode causar câncer de boca por si só, mas é um fator que pode estar relacionado com o seu desenvolvimento. A Dra. Marina Azzi explica: “Traumas crônicos na boca decorrentes do uso de próteses dentárias mal-adaptadas e restaurações dentárias defeituosas com irregularidades estão relacionados com irritação duradoura na mucosa (tecido de revestimento da boca), o que favorece o surgimento de câncer. No entanto, há falta de evidências científicas que realmente comprovem essa relação. Vale ressaltar que a associação de outros fatores, como infecção pelo vírus HPV, presença de alterações pré-malignas no tecido de revestimento da boca, tabagismo e etilismo, é fundamental para o surgimento de câncer de boca.".
Como são feitos o diagnóstico e o tratamento do câncer bucal?
O diagnóstico de câncer de boca requer a avalição da boca por um médico especialista, ou seja, de preferência um cirurgião de cabeça e pescoço. Se houver a presença de alterações suspeitas, o próximo passo é a realização de uma biópsia, quando é retirado um fragmento da lesão para análise histopatológica e definição do diagnóstico de câncer. Habitualmente, essa biópsia é feita no consultório, sob anestesia local.
Quanto ao tratamento do câncer bucal, como com qualquer outro tipo de carcinoma, é preciso realizar uma cirurgia na área afetada, visando à retirada do tumor maligno. Muito frequentemente também é feita uma abordagem cirúrgica do pescoço, para realizar o esvaziamento cervical, um procedimento que possibilita a extirpação dos linfonodos do pescoço, conhecidos como gânglios ou ínguas. “É comum o envolvimento desses linfonodos pela doença maligna, conhecida como metástase ganglionar", pontua a cirurgiã do Hospital Brasília. Ela destaca ainda que, em muitas situações, faz-se necessário empregar um tratamento complementar à cirurgia, que pode compreender a realização de radioterapia isolada ou associada à quimioterapia.
Câncer de boca mata?
Infelizmente sim, o quadro pode ser fatal se não tratado corretamente e o mais cedo possível. Sabemos que todos os tipos de câncer possuem a capacidade de se espalhar para outros órgãos, adoecendo todo o corpo progressivamente. A diferença é que o desenvolvimento de alguns tipos de carcinoma é mais lento do que outros. No caso do câncer de boca, ele geralmente apresenta um crescimento acelerado, por isso é tão perigoso e demanda a necessidade de empregar tratamentos mais agressivos, também com mudança no prognóstico do paciente.
O diagnóstico precoce é a base para o sucesso do tratamento e da sobrevivência. Por isso é de suma importância trabalhar a conscientização da população sobre os sinais de alerta dessa doença, visando encorajar a busca imediata por avaliação com especialistas para a definição do diagnóstico e o início do tratamento o mais rápido possível.
Agora que você sabe mais sobre o assunto, compartilhe o seu conhecimento com terceiros e não hesite em procurar um cirurgião de cabeça e pescoço para investigar qualquer alteração suspeita.
“É importante que as pessoas tenham o hábito de inspecionar a boca ao fazer a higiene bucal diária. Observe cuidadosamente se a boca perece saudável por dentro. A presença de lesões avermelhadas, esbranquiçadas (placas esbranquiçadas que podem ter aspecto translúcido ou completamente brancas) e/ou feridas na cavidade oral que não cicatrizam em 15 dias deve ser avaliada por um especialista", finaliza a Dra. Marina Azzi, cirurgiã de cabeça e pescoço do Hospital Brasília.