Ao pensar nos maiores vilões da saúde, não nos vem à mente a obesidade. Geralmente, passamos por grandes epidemias, doenças incuráveis ou vírus incontroláveis. No entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a obesidade uma pandemia, tal qual a Covid-19. Essa doença tem características crônica, progressiva e recidivante (pode voltar a ocorrer após um intervalo de tempo). Esse quadro atinge 600 milhões de adultos e 100 milhões de crianças em todo o mundo. “Há muito o que se falar sobre a obesidade, em especial porque foi somente em 1930 que ela foi reconhecida como doença. Até então, as pessoas que eram obesas eram indiscriminadamente rotuladas como 'preguiçosas e comilonas'", explica a Dra. Jamilly Drago, endocrinologista do Hospital Brasília. Foi, inclusive, com o reconhecimento da obesidade como doença que os organismos internacionais de saúde passaram a se debruçar mais cuidadosamente sobre o tema. Com o passar do tempo, as pesquisas foram revelando uma estreita relação da obesidade com outras complicações de saúde, como o infarto, o diabetes e até mesmo o câncer.
O que caracteriza a obesidade?
Caracteriza-se como obesidade o acúmulo de gordura no corpo causado pelo consumo excessivo de calorias na alimentação. Essas calorias ficam sobressalentes ao exigido pelo corpo para suas funções cotidianas. Quer dizer, a pessoa acaba ingerindo muita fonte de energia que depois o corpo não consegue gastar integralmente ao longo das atividades exercidas ao longo do dia.
Infelizmente, a obesidade ainda é rodeada de estigmas que impedem que as pessoas realmente lidem com o problema de maneira saudável e consciente das condições de cada organismo. Portanto, aquilo que, até nos dias de hoje, o senso comum trata com preconceito e fruto da “má vontade", na verdade, é um distúrbio que deve ser levado a sério.
É claro que a obesidade também é resultado de um estilo de vida não saudável, mas não é só isso. Ela também pode ser consequência de problemas hormonais, fatores genéticos, metabólicos e psicológicos. Não é mera questão estética – a obesidade tem raízes profundas que levam a alterações funcionais, comportamentais e, sobretudo, convertem-se em doenças ainda mais graves.
Quais são as causas da obesidade?
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Pode acontecer de a obesidade estar diretamente ligada aos sintomas de algumas doenças. No entanto, na maior parte dos casos, ela é consequência de:
• sedentarismo – a rotina pessoal é pouco ativa e desproporcional à quantidade de calorias ingerida;
• alimentação não saudável – o consumo excessivo de alimentos com alto teor calórico, principalmente quando associado ao sedentarismo, impede que o corpo aplique toda a energia produzida, gerando sobrepeso.
Mas não é só isso...
Há também os fatores de risco que estão associados ao organismo das pessoas obesas.
Fator genético – nem sempre o corpo desempenha com eficiência a conversão de alimentos em energia, o que gera dificuldades para queimar calorias mesmo com a prática de exercício. “Já foram identificados genes que atuam na região do cérebro responsáveis pela saciedade e que têm relação direta com a obesidade. No entanto, também já foi constatado que, apesar de existir uma causa genética, fatores ambientais como os hábitos alimentares da família e a prática de exercícios físicos são determinantes. Ou seja, não é porque existe uma herança genética que não vai ter mais jeito, temos que tratar a condição em longo prazo e de preferência com uma equipe multidisciplinar, e há grandes chances de sucesso no tratamento", afirma a endocrinologista.
Complicações de saúde – há doenças e condições que geram a obesidade tanto por disfunções biológicas próprias como por consequências indiretas. Por exemplo, quando uma limitação motora impede a prática de exercícios, resultando na obesidade.
Idade – é fato que a obesidade não tem idade, tanto é que a obesidade infantil também é um quadro de saúde pública preocupante. Entretanto, à medida que o corpo envelhece, maiores são as restrições que propiciam que os adultos se tornem pessoas obesas. Isso porque há mudanças no metabolismo, nos hábitos de vida e nas habilidades motoras.
Questões psicológicas – as disfunções emocionais podem, das mais variadas formas, gerar a obesidade. Pessoas ansiosas ou que sofrem de insônia podem, por exemplo, encontrar no consumo alimentar uma rota de alívio para suas dificuldades.
Sintomas da obesidade
A obesidade não gera sintomas em si. Os sintomas da obesidade, na verdade, são efeitos recorrentes que, ao longo do tempo, podem provocar ainda mais agravos ao bem-estar da pessoa. Principalmente, uma gradação em relação ao próprio quadro de obesidade.
Alguns dos efeitos são cansaço, suor excessivo e dores musculares, principalmente, na coluna e nas pernas. Tais efeitos são diretos e perceptíveis ao paciente. No entanto, há outras condições que também vão sendo percebidas de forma indireta. É o caso da redução da libido, baixa autoestima e redução no desempenho sexual. “Outro grande desafio enfrentado pelas pessoas obesas é o assédio moral. O termo 'gordofobia' foi cunhado apenas recentemente, mas há muitos anos pessoas gordas são discriminadas no mercado de trabalho e em outros grupos sociais. É necessária uma conscientização sobre isso", complementa a médica.
Categorias I, II e III
Existem algumas classificações em relação à obesidade. A primeira delas diz respeito à localização da gordura. Nesse caso, ela pode ser:
• homogênea – é aquela gordura que se acumula de modo equilibrado pelo corpo, isto é, tanto na parte superior como inferior dos membros;
• androide – é a gordura que se deposita na região abdominal e torácica, predominante no sexo masculino, mas também comum em mulheres após a menopausa. Essa categoria apresenta alto risco para complicações cardiovasculares;
• ginecoide – muitas pessoas associam esse tipo de gordura ao formato de uma pera, pois o acúmulo acontece na região inferior, como nádegas, quadril e coxas. Ela costuma ser mais comum no sexo feminino e tem correlação com o surgimento de artrose e varizes.
Calculando o IMC
A segunda forma de categorizar a obesidade é de acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC). Ele é calculado dividindo o peso total da pessoa pela sua altura elevada ao quadrado. Essa conta é simples de ser feita e, com o resultado, você descobre, agora mesmo, em que categoria você está na tabela a seguir:
abaixo de 17 – muito abaixo do peso;
entre 17 e 18,4 – abaixo do peso;
entre 18,5 e 24,9 – peso normal;
entre 25 e 29,9 – acima do peso;
entre 30 e 34,9 – obesidade I;
entre 35 e 39,9 – obesidade II (severa);
acima de 40 – obesidade III (mórbida).
Obesidade grau I
A obesidade grau I é aquele primeiro sinal vermelho. Costuma vir acompanhada de fadiga, dores musculares e limitação de movimentos. O tratamento basilar para esse estágio é o trio dieta, exercício físico e, em alguns casos, a medicação. É um quadro, sobretudo, resultante de um estilo de vida consolidado ainda na infância. São hábitos que, geralmente, configuram a obesidade infantil, mas que são facilmente negligenciados nessa faixa etária. Portanto, tratar a obesidade na infância é prevenir a progressão do distúrbio na fase adulta. Nesse sentido, o acompanhamento de um endocrinologista pediátrico é essencial não só pontualmente, como para promover uma educação alimentar efetiva de prevenção à obesidade. Agir ainda nesse grau da doença é evitar um tratamento doloroso e restritivo em um futuro próximo.
Obesidade grau II
Aqui os sintomas da obesidade passam a ser ainda mais acentuados e comprometem o bem-estar físico e psicológico do paciente. Estão associados a doenças articulares, hipertensão, diabetes mellitus, cânceres, infarto agudo do miocárdio e AVC (Acidente Vascular Cerebral).
A rotina alimentar e a prática de exercícios são a abordagem prescrita para qualquer pessoa, seja como prevenção à obesidade, seja como tratamento. No entanto, a obesidade grau II exige o uso de medicação apropriada ao paciente e até mesmo intervenção cirúrgica. A terapia abrange o paciente de maneira integral, amparado por uma equipe médica que oriente vias cirúrgicas ou fármacos especializados contra a obesidade mórbida. Em geral, as pessoas obesas no grau II da doença devem encarar a questão como um sério risco à saúde do corpo. “O tratamento da obesidade, na maioria dos casos, não ocorre com apenas um profissional, é necessário um corpo clínico multidisciplinar para auxiliar a pessoa que enfrenta esse desafio", complementa a endocrinologista.
Obesidade grau III
Por fim, o estágio em que a doença costuma ser um quadro complexo de obesidade mórbida. Ela alcança características de morbidez, refletindo diretamente na expectativa de vida do paciente. As patologias associadas a esse grau de obesidade são distúrbios hormonais, cardiopatias, morte súbita e insuficiência venosa. Porém, vale a ressalva da OMS: a obesidade grau III é considerada a principal causa de morte evitável do mundo. Ou seja, muitas vezes ela é fruto da negligência do paciente ao longo da vida, seja banalizando a doença, seja sucumbindo aos insucessos de mudar o comportamento em fases anteriores. Portanto, a obesidade grau III exige do paciente mais do que força de vontade e adaptação de rotina para conseguir reduzir os danos.
Obesidade e Covid-19: o choque entre as pandemias
Nos meses de combate à Covid-19, muito se falou sobre os riscos da junção entre obesidade e coronavírus. Cientistas constataram que as pessoas obesas eram mais propensas ao agravamento do quadro da doença. Ao lado dos idosos, hipertensos e diabéticos, a população obesa foi incluída no grupo de risco para a Covid-19. Para eles, o vírus tem 50% mais chances de ser fatal.
Isso porque a obesidade, como apontado no tópico acima, acarreta uma série de outras doenças e distúrbios que debilitam o organismo ao longo do tempo. Além disso, ela também dificulta os métodos de atendimento da Covid-19, como a intubação. E, infelizmente, muitos hospitais carecem dos instrumentos apropriados para o atendimento de pessoas obesas, como macas e máquinas de exames por imagem.
Como é o tratamento de pessoas com obesidade ou sobrepeso?
Embora haja um enorme esforço dos órgãos de saúde e de movimentos sociais pela compreensão dos múltiplos aspectos da obesidade, o melhor remédio para ela ainda é preventivo. Começa com a admissão dos perigos da obesidade infantil que, de acordo com dados da OMS, já atingem 100 milhões de crianças no mundo. Ela costuma ser o primeiro passo em direção ao agravamento da doença na maturidade, em razão da consolidação de hábitos não saudáveis. São condutas cotidianas vistas como irreversíveis e que ocasionam uma enorme resistência dos pacientes ao tratamento.
Portanto, os cuidados em relação à obesidade passam primordialmente pelo reconhecimento da doença e, depois, pelo comprometimento com mudanças, muitas vezes radicais, no estilo de vida. No entanto, esse desafio não só pode, como deve ser acompanhado por uma equipe médica.
A reeducação alimentar, na maioria das vezes, precisa estar acompanhada de medicamentos, atividades físicas e até mesmo fisioterapia e psicoterapia. Daí a importância da equipe multidisciplinar mencionada pela Dra. Jamilly. Em outros casos, há a indicação da cirurgia de “redução de estômago", que auxilia na perda de peso, mas apresenta efeitos colaterais importantes que devem ser informados ao paciente, como a alteração na absorção de vitaminas, por exemplo.
Mas a médica também pontua que há estudos bem adiantados sobre a real forma de expressão dos genes ligados à obesidade. Além disso, os pesquisadores também estão desenvolvendo medicamentos que podem ter tanto sucesso no tratamento da obesidade quanto a própria cirurgia bariátrica.
No Hospital Brasília, contamos com uma equipe multidisciplinar que pode auxiliar as pessoas que enfrentam esses desafios. Para agendar atendimento com um de nossos especialistas, basta ligar para (61) 3704-9000 ou acessar aqui o Agendamento On-line.
Como vimos, as causas da obesidade e seu tratamento variam de acordo com o quadro de cada paciente. Entretanto, ela é progressiva e perceptível ao longo do tempo, o que, de certa forma, favorece sua prevenção. Porém, o tratamento também costuma ser um processo longo que demanda uma série de contenções. E a disciplina é a chave indispensável para o sucesso do tratamento.
Você não precisa encarar essa trajetória de maneira autônoma – a orientação de nutricionistas, endocrinologistas, cardiologistas e tantas outras especialidades é ótima aliada para seu planejamento cotidiano. Além disso, a orientação profissional reduz as chances de tentativas frustradas que possam acentuar as dificuldades com o tratamento.
Equipe multidisciplinar para atendimento
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