O mês de setembro já começou e com ele também chega a campanha Setembro Verde, criada para estimular a prática de doação de órgãos e tecidos. A iniciativa se faz ainda mais necessária nestes tempos de pandemia. Isso porque, assim como em inúmeros setores da sociedade, os desdobramentos deste momento delicado também se estenderam às doações de órgãos no país, que impactaram de forma negativa o número de transplantes realizados durante o primeiro semestre de 2020. Recentemente, a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) divulgou que a taxa de doadores efetivos caiu 6,5% em comparação com o mesmo período do ano passado.
Ainda existem 40.740 pacientes na lista de espera para receber um órgão novo e saudável. “Muitos não terão um órgão por falta de doações e vão acabar falecendo na lista de espera. De acordo com a Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (Adote), mais de 30% das pessoas que aguardam por um transplante de coração, por exemplo, não conseguem o órgão em tempo hábil. Isso demonstra o quanto temos de batalhar para aumentar o número de doações e ajudar os pacientes que precisam de um órgão ou tecido”, ressalta o Dr. André Luís Conde Watanabe, coordenador da equipe de Transplante Hepático do Hospital Brasília.
O médico acredita que a falta de conhecimento acerca do diagnóstico de morte encefálica, bem como do processo de doação, associado, muitas vezes, à divulgação de informações incorretas e fantasiosas, acaba dificultando a doação de órgãos. Por isso, hoje vamos esclarecer as dúvidas mais comuns sobre esse assunto tão importante, para divulgar informações corretas e ressaltar que com essa atitude altruísta é possível salvar muitas vidas.
Nosso especialista respondeu às perguntas mais frequentes
Que órgãos e/ou tecidos podem ser doados?
Inúmeros órgãos e tecidos podem ser doados, entre eles coração; válvulas cardíacas; fígado; pulmões; ossos; medula óssea; rins; pâncreas; intestino; córneas e até mesmo a pele.
Quem pode ser um doador de órgãos?
Existem dois tipos de doador: doadores vivos, que para doar necessitam ter boa saúde e idade mínima de 18 anos, e doadores com diagnóstico de morte encefálica. Nesse caso, os responsáveis por autorizar a doação serão os familiares desse paciente.
Quem não pode ser doador de órgãos?
A avaliação do doador é realizada por médico capacitado e pode variar, a depender do tipo de transplante. De forma geral, costumam ser contraindicações as doenças infectocontagiosas e as degenerativas crônicas, os tumores malignos e a septicemia não controlada.
É possível doar em vida?
Sim. O doador vivo pode doar um dos rins, parte da medula óssea, parte do fígado ou do pulmão. Nesses casos, é preciso passar por uma avaliação médica, e é necessário que o doador seja parente de até quarto grau do receptor no caso de órgãos sólidos. Para doar para outras pessoas, é preciso ter autorização judicial. No caso de medula óssea, basta se cadastrar no banco de doadores voluntários de qualquer hemocentro, sem a obrigação de ter parentesco ou autorização judicial.
Para ser um doador em vida, você pode acessar o site da Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (Adote), fazer seu cadastro e download do cartão de doador. Basta acessar o link: http://www.adote.org.br/.
Se doar um órgão em vida terei problemas de saúde no futuro?
O Dr. André Luís Watanabe garante que o transplante intervivos é um procedimento seguro para o doador, sem prejuízo para a saúde a longo prazo. O médico especialista é habilitado para avaliar corretamente o doador no período pré-transplante e, com isto, reduzir os riscos de complicação.
Caso eu decida ser doador, como minha família deverá agir?
No Brasil, a doação de órgãos só pode ser realizada com a autorização dos familiares, por isso é importante que sua família saiba sobre seu desejo de ser doador. Após a declaração de morte encefálica, sua família autorizará a doação, por meio da assinatura de um documento. É importante ressaltar que o diagnóstico de morte encefálica envolve diversas avaliações clínicas e a realização de exames e trata-se de condição irreversível.
No caso do falecimento de um familiar, o que acontece após eu autorizar a doação de seus órgãos?
Serão feitos diversos exames para possibilitar a doação, como identificação do tipo sanguíneo e sorologias. Em seguida, os órgãos viáveis serão ofertados para os pacientes compatíveis inscritos em listas de transplantes. Tais listas obedecem a rígidos critérios baseados na gravidade dos pacientes e no tempo de lista.
Minha família terá custos se eu quiser doar meus órgãos?
Não há custos para a família quando da doação de órgãos e tecidos.
Como é a cirurgia para a retirada de órgãos?
Ela é feita por uma equipe especializada em transplantes. Essa equipe será responsável pela retirada, preservação e transporte dos órgãos que serão transplantados. Além disso, tomará todos os cuidados para realizar a devida reconstituição do corpo do doador, conforme a Lei n° 9.434/1997.
É possível saber para quem foi doado o órgão?
Por questões éticas, não é permitido que a família do doador saiba quem recebeu a doação. Da mesma forma, o paciente transplantado não tem acesso à identidade do doador. “O mais importante é lembrar que a doação possibilita que muitas pessoas sejam salvas, sendo um legado de amor após o término da vida”, reforça o coordenador da equipe de Transplante Hepático do Hospital Brasília.
Transplantes em meio à Covid-19: o que muda?
De acordo com um documento divulgado pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), no momento atual, todos os doadores e receptores assintomáticos devem ser considerados doadores/receptores de risco. “Cada equipe deverá analisar a relação risco-benefício do transplante e a possibilidade de postergar o procedimento, considerando o perigo da infecção pela Covid-19 para o doador e/ou o receptor e a ameaça da mortalidade pela doença de base.
Além disso, o doador deverá passar por uma apuração epidemiológica de contato com casos suspeitos ou confirmados de Covid-19, bem como pela investigação clínica e laboratorial de sintomas respiratórios ou febre, isto é, precisará fazer alguns testes e coletar amostras respiratórias em situações especiais.
No que diz respeito às recomendações preliminares para a utilização de órgãos de doadores falecidos, doadores testados positivo para a Covid-19 ou para a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) devem ser desconsiderados. Com relação à realização do transplante conforme situação do receptor, se este estiver positivo para o novo coronavírus, a cirurgia de transplante só deverá ser realizada em caso de emergência.
Os receptores de transplante precisam redobrar a atenção e os cuidados com a saúde neste momento, afinal, apresentam maior risco de contrair vírus respiratórios, por conta da imunidade consideravelmente mais baixa, pelo fato de os transplantados precisarem usar imunossupressores, medicamentos que evitam a rejeição do novo órgão, mas que, para isso, diminuem a defesa imunológica.
O Hospital Brasília é referência em cirurgias de transplante de órgãos e de medula óssea. Em 2019, obtivemos, do Ministério da Saúde, autorização para realizar transplantes cardíacos. A primeira cirurgia desse tipo foi feita em julho deste ano, com total sucesso.
Faça parte dessa corrente do bem!
A doação de órgãos é fundamental para a manutenção e o crescimento do número de transplantes no Brasil. É maravilhoso ver a recuperação do paciente após o transplante, principalmente em alguns casos, como o de fígado, em que o paciente transplantado, literalmente, ganha uma vida nova.