A cirurgia robótica é uma tecnologia relativamente recente no Brasil. Afinal, há somente pouco mais de 10 anos que se usam os sistemas de braços robóticos com programação e visores de altíssima definição para auxiliar os médicos na realização de procedimentos cirúrgicos. Apesar do nome “cirurgia robótica", que sugere que o paciente será operado por um robô, sem a atuação do médico, não é exatamente assim que acontece. “No Brasil, por sermos culturalmente mais ligados a um relacionamento interpessoal médico-paciente, muitos pacientes ficam inseguros quando se fala em cirurgia robótica, imaginando que o médico não estará presente, mas é importante esclarecer que essa ideia não procede", explica a Dra. Marina Azzi Quintanilha, especialista em cirurgia robótica de cabeça e pescoço.
Mas, então, o que é cirurgia robótica?
O termo “robô" tem duas definições possíveis. A primeira delas diz respeito a uma máquina, um autômato de aspecto humano capaz de se movimentar e agir. Já a segunda, que é a que se aplica ao caso das cirurgias robóticas, define o robô como um mecanismo comandado por controle automático. “O equipamento da cirurgia robótica é composto por três sistemas interligados", explica a Dra. Marina. O primeiro deles é formado por um conjunto de braços no qual são inseridas as pinças (instrumental cirúrgico que permite maior delicadeza na manipulação das estruturas anatômicas). “Os pacientes podem comprovar essa precisão por meio de um vídeo muito famoso, feito pela indústria que fabrica o equipamento robótico, que mostra um médico usando o robô para tirar a casca de uma uva, tamanha a precisão e a delicadeza da intervenção que essas pinças permitem", relata a médica, ao mencionar um vídeo que fala sobre o equipamento usado no Hospital Brasília para os procedimentos robóticos, o Da Vinci SI.
O segundo sistema é a “inteligência do robô", sua parte de programação. Esse componente equipara-se aos HDs dos computadores comuns. É onde se instalam programações e padrões que permitem o acionamento do médico, por meio do terceiro sistema, que é a cabine de controle (conhecida como console). Essa parte, somente para fins de comparação, lembra uma cabine de jogo eletrônico, com controles que se assemelham ao joystick usado para jogar videogame.
A diferença fundamental, no entanto, fica por conta do visor, que tem um encaixe para o rosto do cirurgião. “Importante ressaltar que precisamos estar com o rosto acoplado a esse visor durante o procedimento; quando o cirurgião tira o rosto desse encaixe, o sistema interrompe a movimentação. Isso prova que, ao contrário do que muitos imaginam, o robô não faz nada sozinho, é necessário um comando do cirurgião para todos os movimentos", completa a Dra. Marina.
A revolução da robótica na cirurgia de cabeça e pescoço
“A tecnologia da cirurgia robótica provocou uma verdadeira quebra de paradigma na área de cirurgia de cabeça e pescoço", diz a médica. Ela informa que, antes da robótica, muitos casos que precisavam de cirurgia nessa região do corpo requeriam uma intervenção extremamente invasiva. “Era uma cirurgia muito impactante, mórbida eu diria, tínhamos que abrir o rosto do paciente. Hoje, com a robótica, conseguimos acessar áreas extremamente desafiadoras sem fazer grandes incisões."
Há aproximadamente seis anos, os procedimentos de cabeça e pescoço intensificaram o uso da tecnologia robótica. Essa inovação permitiu, entre outros avanços, a melhora no protocolo de tratamento de tumores de orofaringe, que é a região compreendida entre a raiz (final da língua) e a epiglote. A médica conta que o protocolo desses casos inclui a realização de cirurgia para retirar o tumor propriamente dito e, em muitas situações, também há a necessidade de remover os linfonodos da região do pescoço, para evitar possíveis migrações das células tumorais para outras partes do corpo (metástases linfonodais), e também de nódulos malignos no pescoço. Essa etapa é chamada pelos médicos de “esvaziamento cervical". Todo o procedimento é feito com o robô Da Vinci, proporcionando benefício funcional e estético. O tratamento complementar à cirurgia é avaliado individualmente e pode incluir a radioterapia isolada ou associada à quimioterapia.
“Essas cirurgias de orofaringe quase sempre requerem um acompanhamento pós-cirúrgico com fonoaudiólogos e fisioterapeutas, dependendo da extensão do tumor, já que trazem muitos desafios ao paciente. Então, o fato de conseguirmos fazer um procedimento que deixa cicatrizes mínimas no corpo e permite uma recuperação mais rápida, além de tratar com precisão a área a ser operada, é um salto na qualidade de vida de quem precisa se submeter a tratamentos como esses", explica a médica.
Hospital Brasília: referência em cirurgia robótica
Complexo hospitalar de vanguarda no Distrito Federal, o Hospital Brasília investe na inovação da cirurgia robótica em duas frentes: oferecendo o procedimento em várias especialidades, como cirurgia de cabeça e pescoço, cirurgias neurológicas e urológicas, e promovendo qualificação para os profissionais na área de cirurgia robótica.
Para se tornar um especialista em cirurgia robótica, o médico precisa fazer uma especialização em cirurgia geral, em seguida, se qualificar em alguma região do corpo para só depois passar à etapa de aprender a operar o equipamento. Esta, segundo a médica, é uma dúvida recorrente dos pacientes para quem é indicada a cirurgia robótica. “É importante esclarecer que, antes de se especializar em operar por meio do equipamento, o médico precisa da formação específica para a área em que vai atuar, e essa informação deve ser sempre passada para o paciente para que ele se sinta mais seguro ao optar pela cirurgia robótica", finaliza a Dra. Marina.
A cirurgiã também aproveita para deixar um recado às pessoas que enfrentam algum tipo de tratamento para o qual se indica a cirurgia robótica. “É importante procurar um médico de confiança e tirar as dúvidas sobre o assunto. A cirurgia robótica tem muito a oferecer ao paciente em termos de precisão e recuperação mais rápida, então vale a pena considerá-la na hora de decidir sobre o melhor tratamento para o caso."